(Colaboração dramatúrgica no processo de criação do trabalho “Peça para Negócio”, de Miguel Pereira, 2017)
“Ter uma nova estratégia.
Tornar o meu trabalho mais atractivo, mais rentável!
Pegar nos elementos que já lá estão, baralhar, dar de novo, mudar a embalagem.
E mostrá-la ao mundo, numa nova investida global, planetária mesmo!
Pensar em grande! (…) Isto tem que ser uma coisa grandiosa!” (texto de Miguel Pereira em Peça para Negócio)
“Quando comecei a pensar e a delinear esta criação achei que, num momento de desaceleração de obrigações de calendário, poderia dar-me espaço e tempo para reflectir e entender melhor aquilo que me atravessa hoje como pessoa e como artista e de que modo isso seria traduzível num solo. Procurei encontrar um objecto que conseguisse juntar no todo as convicções (artísticas) e simultaneamente contivesse uma estratégia de sobrevivência.
Apercebi-me que ando neste trabalho há mais ou menos 25 anos, a pensar e a experimentar formas de falar sobre a minha visão pessoal e íntima perante a complexa experiência do mundo, projectada e ampliada no quadro da cena e do teatro. Tentei nunca sobrepor a necessidade económica (ou material) à necessidade artística. Para mim sempre houve uma atitude “amadora” na forma como me entreguei ao prazer do fazer artístico, que como dizia Barthes é aquele que “ama” o que faz. Só depois vem a profissão e os seus estatutos.
Mas perante um mundo cada vez mais veloz e capitalizado como o que vivemos, parece que o espaço para o tempo de experimentar, errar, andar à deriva, procurar, perder-se, reencontrar-se (o tempo do amador) se foi perdendo. Então o instinto e a necessidade de sobrevivência começaram a sobrepor-se a todo e qualquer devaneio artístico.
Quando se decidiu que a apresentação do solo seria no Espaço do Negócio em Lisboa, achei que o nome do lugar se tornava um bom tema e definia uma estratégia. É possível pensar lucrativamente perante a natureza e o objecto de uma pesquisa artística? Como gerir esse paradoxo? Como reinventar-se nos momentos em que questionamos a nossa própria capacidade de superação?
Como não cair no esquecimento?”
Miguel Pereira
Ficha Artística
Concepção e interpretação: Miguel Pereira | Colaboração dramatúrgica: Joclécio Azevedo | Apoio artístico: Nuno Lucas | Luz e participação especial: José Alho | Música: David Wolfert e Sandy Linzer | Co-produção: Negócio/ZDB
Produção: O Rumo do Fumo
Residências Artísticas: Circular Associação Cultural, Negócio/ZDB e O Espaço do Tempo | Apoio: Forum Dança
Agradecimentos: Ana Pais, António Tagliarini, Dina Magalhães, Luísa Veloso, Marta Furtado, Natxo Checa, Paulo Vasques, Pedro Nuñez e Rui Catalão | Agradecimento especial a Sérgio Matias pela colaboração na fase inicial do projecto
Projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian
O Rumo do Fumo é uma estrutura financiada por Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes
Foto: ©Lais Pereira